Como costuma dizer o amigo Gustavo Gindre, temos uma prevenção muito grande contra o estado totalitário. E devemos ter. É plenamente justificável que a tenhamos. Mas temos muito poucos anticorpos sociais para esse mesmo papel totalitário quando ele é exercido pelas empresas.Especialmente em relação ao uso de dados.
Me lembrei muito dessa dicotomia (se é que podemos chamar assim), esta semana, diante de duas notícias envolvendo o Facebook. Uma no Brasil, outra na Alemanha.
No Brasil, a empresa é acusada de reter dados e não colaborar com as autoridades em investigações policiais, especialmente em questões envolvendo o WhatsApp. Já na Alemanha é a rede social o objeto da investigação, por desrespeito às regras de proteção de dados pessoais.
Nos dois casos, guardadas as devidas proporções, há uma ponto em comum: o abuso de poder no uso dos dados. Ambas esbarram no mesmo tema: o sigilo na Internet. O quando ele é (individualmente) desejável e (coletivamente) questionável?
Não é um debate fácil. Banal. E vale igualmente para disputa entre a Apple e o FBI.
O sigilo da internet é hoje uma das pedras no sapato da chamada sociedade do controle.
As novas tecnologias de coleta, armazenamento e processamento de dados ajudaram a multiplicar os novos mecanismos de vigilância e controle. Os muros que caracterizavam a sociedade disciplinar de Foucault caíram, de fato, e o poder controlador está completamente dissolvido em todos os espaços, confirmando Deleuze.
Que sociedade queremos? Que controles estamos dispostos a aceitar? Ou a tolerar?
Partilho da opinião da advogada Roberta Rodrigues,do escritório LL Advogados: “estamos diante de um choque entre princípios fundamentais do direito, e cada sociedade precisará definir o que é mais importante para si”.
Quem vai controlar a sociedade do controle? E como?